• 21/04/2019
  • por Resenha Politika

Ciro Gomes: 'Agora o PT aguente, agora eu estou fazendo política'

Ciro Gomes: 'Agora o PT aguente, agora eu estou fazendo política'

Derrotado nas eleições presidenciais de 2018, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) segue fazendo política. Seja como observador atento do atual cenário, seja em discursos e palestras nas quais mantém viva a sua “metralhadora verbal” contra o PT e o presidente Jair Bolsonaro (PSL), Ciro se mantém relevante como voz importante de uma esquerda fragmentada.

Em entrevista ao HuffPost Brasil, na última quarta-feira (17), o pedetista chamou mais uma vez o PT de “quadrilha”, disse que a cúpula do partido “apodreceu” e que “nunca mais” se associará ao PT, jogando por terra - pelo menos, por ora - qualquer chance de articulação de oposição.

Ciro, contudo, nega que a repulsa tenha como fundo uma mágoa das eleições, quando o ex-presidente Lula articulou para que o pedetista ficasse isolado. 

“Um cara como eu, com 40 anos de vida pública, não faz mágoa, faz política. Quando eles fizeram o que fizeram, eles estavam fazendo política”, disse. “Agora eles [PT] aguentem, agora eu estou fazendo política.”  

Ciro, que ficou em 3º lugar na disputa pela Presidência, também criticou a oposição ao governo Bolsonaro: “Não existe oposição, o que tem é confusão”.   

E condenou as críticas que a deputada Tabata Amaral (PDT-SP) recebeu da esquerda após ganhar protagonismo no Congresso.

“Tudo que é novo para eles [o PT] é um insulto. (...) Qual a liderança nova que apareceu no PT? Aí aparece uma jovem, nascida na favela, filha de mãe trabalhadora, de pai trabalhador, que sacrificou sua vida inteira. (...) Os caras enlouquecem”, disse. ”É quase um chute na mediocridade corrupta deles.”

Em relação ao governo Bolsonaro, Ciro aposta que “ainda vem muita confusão por aí” e que o vice-presidente, Hamilton Mourão, está “muito bem assessorado”, de olho no lugar de Bolsonaro.

“Ele [Mourão] está de olho [na cadeira de presidente], e de olho gordo, não está disfarçando”, diz.

Leia trechos da entrevista.

 

HuffPost Brasil: Estamos vendo agora a pressão dos caminhoneiros em relação ao preço dos combustíveis, as construtoras ameaçando deixar o programa Minha Casa, Minha Vida, o embate entre Executivo e Congresso. Como o senhor avalia o futuro econômico do País?

Ciro Gomes: Lamentavelmente, eu imagino que o Brasil caminha a passos muito acelerados para uma grande confusão. Não estou vendo golpe, não estou vendo impedimentos. Os políticos sabem que cometeram um erro grave com o impedimento da [ex-presidente] Dilma [Rousseff], não vão cometer o mesmo erro agora. Vão tentar tutelar o Bolsonaro com essas coisas de um parlamentarismo de fato, que vai constrangendo, e os militares, ainda nos bastidores, vão tentar moderar.

Mas é orgânico ao Bolsonaro, na sua compreensão de vida, essa completa falta de comprometimento com qualquer coisa séria.

Na campanha você pode fazer isso porque, infelizmente, a grande mídia brasileira tem lado, ela não examina criticamente as coisas.

Bolsonaro entregou uma cópia do kit gay da mão do William Bonner no Jornal Nacional e a Rede Globo nem para fazer por 30 segundos uma investigação se aquilo existia ou não e dizer que aquilo é falso. Não fez. Evidentemente a Globo queria a eleição de qualquer um, menos eu o [candidato do PT Fernando] Haddad. Tinha que ser qualquer um. Não dando com um, “vai tu”.

Agora Bolsonaro diz aos grupos de interesse o que eles querem ouvir. Por exemplo, para os amigos dele aí, esses corruptos da comunidade judaica, que acham que, porque são da comunidade judaica, têm direito de ser corrupto. Corrupto, para mim, não interessa se é curdo ou cearense. Corrupto é corrupto, ladrão é ladrão. Ele [Bolsonaro] disse para eles que ia transferir a embaixada do Brasil [de Tel Aviv para Jerusalém] a custo de grana para campanha. Depois chegou lá dizendo que não vai mais porque ele pensou que era, mas não era.

Disse para os caminhoneiros que ia congelar o diesel e disse para o mercado que ia deixar a política de preços a mesma coisa. Só que isso se faz para demagogia, sem imprensa e sem ir ao debate. Para governar, não dá. Você vai ver a confusão que vem nesse ponto “petróleo e caminhoneiros”.

 

Como o senhor tem avaliado a atuação dos militares, especialmente do vice-presidente Hamilton Mourão?

O Mourão está olhando para a cadeira do Bolsonaro com a cobiça que ele não consegue esconder. E está muito bem assessorado - ele nunca foi desse tipo de habilidade. Agora está sempre na boa.

Vi um discurso do Mourão dizendo que o gesto do Supremo [de determinar que a reportagem da Crusoé fosse tirada do ar] foi censura, baseado em diploma da ditadura militar. Vi o Mourão lá nos Estados Unidos se gabar em relação ao general Geisel, porque ele foi eleito e o Geisel, não. Enfim, quem quiser comprar esse papo compre, eu não entro nesse papo não. Ele está de olho [na cadeira de presidente], e de olho gordo, não está disfarçando.

 

O que o senhor citaria como positivo do governo?

Eles transferiram a cabeça dessas facções criminosas para presídios federais. Uma iniciativa importante. Eu vinha reclamando disso há mais de 10 anos. É importante, eu estou atento às coisas. No mais, é um desastre.

 

E o que é mais negativo?

É a alienação do Brasil aos interesses estrangeiros.

 

Como o senhor avalia a repercussão na esquerda da atuação da deputada Tabata Amaral (PDT-SP), do seu partido, a partir do momento em que ela ganhou protagonismo?

São dores do parto. Essa cúpula do PT apodreceu. É impressionante. Você vê que as pessoas não têm memória, não querem ter, mas o PT faz igualzinho o PSDB mais corrupto. Igual.

O PSDB, por exemplo, tinha o CNI/Ibope para fraudar pesquisa de todo jeito, eles [PT] têm Vox Populi/CUT. Na véspera da eleição, Haddad “perdidaço da Silva”, a CUT anunciou com grande repercussão na mídia que tinha uma pesquisa Vox Populi que indicava 50% a 50% [na disputa com Bolsonaro]. E pronto, passa.