- 08/12/2024
- por Resenha Politika
Opinião
Cajazeiras e Sousa, cidades irmãs - por Dermival Moreira
Em 1982, num comício em Cajazeiras, o então candidato a governador, Antônio Mariz, iniciou seu discurso mais ou menos assim: “Cajazeiras, cidade irmã da minha terra natal, Sousa (...) duas cidades do sertão paraibano que crescem com suas economias baseadas no comércio e na agropecuária (...) portanto, a História de Cajazeiras é a mesma de Sousa...”. Naquele momento achei a referência interessante, mas hoje eu não concordaria tanto com as palavras do saudoso governador. Se analisarmos bem, vemos que a história de Cajazeiras é diferente da história de Sousa, embora estejam localizadas apenas 40 km de distância uma da outra.
Diferenças que começam pela Geografia e se estendem até à História. Mais antiga do que Cajazeiras, Sousa foi um dos primeiros núcleos de povoamento no sertão paraibano. Está localizada em terrenos sedimentares e seus solos férteis e pouco acidentados, facilitam a pecuária e a agricultura, pela aplicação da mecanização. A abundância de água no seu subsolo é outra característica importante numa região semiárida. Essas condições conferem ao município de Sousa bons indicadores agropecuários com reflexo no comércio ligado às atividades rurais. Tem ainda em seu território extensas plantações de coco e banana nos núcleos agrícolas do Distrito de São Gonçalo, considerado o "oásis do sertão". As atividades industriais Sousa se desenvolveram como uma extensão do setor agrícola. Foi sob essas condições naturalmente favoráveis que a terra de Bento Freire nasceu e se desenvolveu.
A cidade de Cajazeiras nasceu em torno de um colégio fundado pelo Padre Rolim. Como cidade filha de Sousa, de quem já foi distrito, herdou uma área de quase 600 km² de terrenos em sua maioria acidentados e rasos. A agropecuária nunca foi seu ponto forte e as condições naturais não favoreceram a agricultura irrigada. Com o fim da cultura do algodão, no início dos anos oitenta, Cajazeiras enfrentou grande crise neste setor, visto que o meio natural não oferecia alternativas ao cultivo de outras culturas na mesma escala. Sem o impulso agropecuário, a cidade se desenvolveu ancorada num comércio varejista bem diversificado e no setor de serviços, com destaque para a educação.
Nos últimos anos Cajazeiras foi beneficiada com a expansão do ensino superior em âmbito nacional e novos cursos foram absorvidos pelo Campus local da UFCG e IFPB. Nesse aspecto, é importante destacar o papel da Diocese local que por muito tempo esteve na vanguarda do ensino em Cajazeiras: foi assim alfabetizando os sertanejos; mais tarde promovendo o ensino secundarista; depois, no ensino superior, com a fundação da FAFIC – por muito tempo a única faculdade de formação de professores do sertão paraibano. Com os recentes investimentos no setor da educação, inclusive privados, a cidade passou a ser referência para os forasteiros na continuação dos seus estudos. A atração de pessoas de fora aqueceu o setor imobiliário e o comércio varejista. Fatos que consolidaram de vez a Terra do Padre Rolim como o terceiro polo educacional mais importante da Paraíba.
As diferenças econômica e vocacional verificadas em Sousa e em Cajazeiras se mostram bastante salutar a ambas. Ao tempo que suas atividades se complementam, diminuem também os efeitos da concorrência mútua, pois onde a economia de uma se mostra menos dinâmica, a outra complementa e vice-versa, e as duas ganham. Como dizem alguns economistas e políticos, "é melhor ter um vizinho 'rico' com quem negociar, do que um com o qual não se pode nem conversar".
Dermival Moreira é licenciado em Geografia e autor de "Identidade e Realidade".