• 12/04/2021
  • por Resenha Politika

Tempo

“Profetas da chuva” do Nordeste também recorrem ao trabalho remoto

“Profetas da chuva” do Nordeste também recorrem ao trabalho remoto

Todos os anos, os chamados profetas da chuva do interior do Ceará se reúnem em diferentes cidades do estado para divulgar suas previsões para a quadra chuvosa na região -período que geralmente vai de janeiro a junho e é crucial para o sustento das famílias de pequenos agricultores locais.

Com a pandemia do novo coronavírus, porém, até eles tiveram de aderir ao “trabalho remoto”.

Os profetas são nordestinos que dizem antever as chuvas no semiárido observando sinais da natureza, como a floração de determinadas plantas, o comportamento de pássaros ou o movimento dos insetos. Para alguns deles, por exemplo, se o joão-de-barro não estiver no ninho, é sinal de chuva.

“A formiga é o bicho mais inteligente que existe”, define o agricultor Titico Báia, de 69 anos e há 35 como profeta. “Elas começam a limpar o formigueiro no verão e jogam o bagaço seco fora. Dali a 90 dias, a chuva vem. Quando o sapo-cururu se prepara para começar a cantar, também é sinal de água.”

Báia é conhecido por observar a natureza principalmente em três dias de setembro e três em outubro. O comportamento de animais, do vento e da lua nesses dias ajuda a prever como será a chuva no primeiro semestre do ano seguinte.

“A gente vive da safra de milho e de feijão. E a regularidade da chuva é o que define se a vida vai ser mais fácil ou mais difícil naquele ano. Em 2021, a chuva só não foi mais esperada do que a vacina”, diz ele.

“Em uma época em que não tínhamos medições regulares na nossa região, essas mulheres e esses homens eram a bússola para os agricultores. Eles diziam a hora certa de plantar e ajudavam a garantir uma colheita melhor”, conta o diretor do IFCE (Instituto Federal do Ceará) de Tauá (337 km de Fortaleza), José Alves Neto.

Ele é um dos organizadores do encontro dos profetas da chuva da região do sertão dos Inhamuns, que acontece há cinco anos. “Mesmo hoje, os órgãos que medem as chuvas escutam o que os profetas têm a dizer.”

Com a pandemia, no entanto, esse grupo de observadores da natureza, que faz recomendações do melhor dia de plantio e estimativas de como será o inverno do ano, não pôde se reunir, já que a maioria tem mais de 60 anos e faz parte do grupo de risco. Onde o evento presencial foi mantido, o número de participantes foi limitado.

Para manter a tradição, os profetas populares se adaptaram e promoveram os primeiros encontros virtuais, com transmissões de profecias pela internet, aumento das parcerias com rádios locais e trocas de previsões com outros agricultores pelo WhatsApp.

A tecnologia, que chegou a ser vista como rival da tradição popular, agora ajuda os observadores da natureza a continuar em atividade.

Quem espera a vacina para voltar a circular pela região é o agricultor Totonho Alves, 64. Ele, que herdou a sensibilidade para observar a natureza do pai e do avô, começou a notar o trabalho das formigas e outros sinais há 40 anos.

Folha Press

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