• 05/12/2023
  • por Resenha Politika

Justiça Eleitoral

Presidente do TSE defende punição para quem usar IA para enganar eleitor

Presidente do TSE defende punição para quem usar IA para enganar eleitor

“O que não pode no mundo real, não pode no mundo virtual. Esse é o único recado que podemos dar para que a Inteligência Artificial (IA) não anabolize as milícias digitais na utilização da desinformação para captar a vontade do eleitor, desvirtuando o resultado de uma eleição.”

A declaração foi dada pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, nesta segunda (4), no painel “IA e desafios à democracia no Brasil”, que abriu o evento “Inteligência Artificial, Desinformação e Democracia”. O encontro é promovido pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação da FGV (FGV EMCI), a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e a FGV Conhecimento, no Rio de Janeiro.

Veja a íntegra da fala do ministro Alexandre de Moraes.

No encontro, realizado em parceria com o Democracy Reporting International (DRI) e a Agência Lupa, serão debatidos os riscos e as potencialidades das novas tecnologias para a democracia, abrangendo os seus desafios regulatórios, potencial inovador e questões éticas relacionadas. A atividade integra o projeto Mídia e Democracia, com apoio da União Europeia no Brasil.

Além de Alexandre de Moraes, participaram do painel, moderado pela jornalista da FGV ECMI Leila Sterenberg, o ministro Luis Felipe Salomão, do Superior Tribunal de Justiça (STJ); a secretária-geral da Advocacia-Geral da União (AGU), Clarice Calixto; o ex-presidente da Câmara dos Deputados e atual diretor-presidente da Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF), Rodrigo Maia; e o presidente da EBC, Jean Lima.

Experiência ímpar

Ao abrir o painel, o ministro Alexandre de Moraes, que participou de formal virtual, destacou que o Brasil teve, desde as Eleições Gerais de 2018, uma experiência ímpar no combate à desinformação como instrumento de ataque à democracia. Para ele, poucos países do mundo tiveram a vivência prática e possuem uma experiência acumulada como o Brasil.

De acordo com o presidente do TSE, a partir de agora haverá ingredientes muito mais perigosos. “Se tudo que foi feito até agora, mesmo com o combate efetivo, já gera dúvidas em grande parcela da população, imagina agora com a utilização da inteligência artificial”, afirmou Alexandre de Moraes.

O ministro lembrou que a utilização das redes sociais para a disseminação da desinformação tem uma causa e uma finalidade. Citou ainda que, recentemente, a utilização da inteligência artificial para otimizar a desinformação pôde ser verificada nas eleições argentinas.

Principais pontos a avançar

De acordo com o presidente do TSE, é preciso avançar em dois pontos. O primeiro, na regulação das redes sociais. O segundo, na implantação de sanções severas aos infratores. 

Sobre a regulação, Alexandre de Moraes lembrou que, em 2023, o Congresso Nacional chegou a discutir o assunto, não tendo sido aprovada, no entanto, a urgência do Projeto de Lei nº 2.630/2020 (PL das Fake News). “Eu costumo dizer sempre que a regulamentação estaria em um único artigo e, nesse caso, sou minimalista: o que não pode no mundo real, não pode no mundo virtual”, disse o magistrado.

Já sobre a segunda questão, o ministro reforçou que são necessárias punições mais duras. “Não basta a prevenção. Não basta a regulamentação prévia. Há a necessidade de sanções severas, para que aqueles que se utilizam da inteligência artificial, para desvirtuar a vontade do eleitor e atingir o poder, ganhar as eleições, saibam que, se utilizarem disso e for comprovado, o registro será cassado, o mandato será cassado e que ficarão inelegíveis. Porque senão o crime vai compensar”, destacou Alexandre de Moraes.

Desafios, poderes e responsabilidades

Na abertura do evento, que prossegue até amanhã (5), a embaixadora da União Europeia no Brasil, Marian Schuegraf, disse que a inteligência artificial surgiu como uma força transformadora que ajudou a vida das pessoas, gerando soluções inovadoras. A embaixadora, no entanto, lembrou que, com grandes poderes, existem grandes responsabilidades.

Segundo ela, na era da desinformação, a inteligência artificial manipulada cria um ambiente onde as democracias podem sucumbir. “Estamos numa encruzilhada. Somente fomentando uma cultura de inteligência artificial responsável poderemos navegar pelos desafios propostos pela desinformação e defender os princípios das nossas sociedades democráticas. Estamos fazendo esforços para que a IA seja uma força para o bem e usada com responsabilidade. Esse evento é um dos esforços”, afirmou Marian Schuegraf.

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